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Crise do transporte público, carro como sinal de status, pouco iniciativa dos governantes... as causas são muitas.

21 dias por ano é a média de tempo que você perde no trânsito. Se o número te assustou, saiba que isso pode piorar e muito. Não são poucos os estudos que preveem que a mobilidade urbana pode colapsar, principalmente quando é focada na carrodependência. Talvez esse dado inicial já esteja até desatualizado, já que ele foi divulgado na Pesquisa Mobilidade Urbana 2022, conduzida pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com o Sebrae. Afinal, nos últimos dois anos temos sentido um aumento do trânsito e estatísticas mostram piora do transporte público e altos índices de mortes por sinistros.

Infelizmente, essa é uma realidade em todo o planeta. Um levantamento feito pela empresa TomTom Traffic, em 2023, criou um ranking dos piores índices de engarrafamento no mundo. O primeiro lugar ficou com Londres, mas algumas cidades brasileiras marcaram presença, como São Paulo na 33ª posição, Recife 36, Curitiba 38°, Belo Horizonte 41° e Fortaleza 57° e Rio de Janeiro 107ª. Não foi à toa que a capital paulista figurou no topo dos municípios brasileiros. No mesmo ano, dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) indicavam que o índice da lentidão era de 155 quilômetros de vias congestionadas (média mensal).

Já em 2024, os números mais alarmantes vêm do Distrito Federal, que apresentou um aumento de 35,8% da sua frota. Assim, contabilizando 2 milhões de veículos na rua para uma população de 3 milhões, ou seja, 2 carros a cada 3 pessoas. Para especialistas da área, a mobilidade urbana na cidade está próximo do insustentável. Além da questão do tempo, essa realidade traz outros problemas como grande emissão de gases poluentes, aumento do estresse dos motoristas, o que, consequentemente, aumenta os acidentes, problema de estacionamento e exclusão das classes menos favorecidas que dependem de transporte público.

A crise dos transportes públicos

Para muitas pessoas, ter um carro não é uma escolha, infelizmente, é um item de primeira necessidade. Não é segredo para ninguém que o transporte público no Brasil vai de mal a pior e a situação se deteriorou ainda mais após a pandemia de Covid 19. Segundo dados do anuário 2022-2023 da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, houve uma queda de 25% da demanda de passageiros nos últimos quatro anos.  Na prática, corresponde a 8 milhões de deslocamentos de passageiros por dia, em média, que deixaram de ser realizados no período analisado.

As causas são muitas e algumas já mostradas em estudos. Logo após a pandemia, existia um medo de utilizar o transporte coletivo devido a uma possível contaminação, com isso muitas pessoas preferiram comprar seu carro próprio. Por sua vez, o mercado estimulou essa prática. Além disso, houve uma popularização de aplicativos de transporte de passageiros e uma falta de incentivo dos governos para ajudar as empresas de ônibus. Como consequência, entre março de 2020 e fevereiro de 2023, 55 empresas operadoras de ônibus fecharam e cerca de 90 mil empregos foram perdidos no setor.

Menos carros

O consenso para a mudança é… precisamos tirar os carros da rua! Mas a matemática é bem simples, se não tem transporte e eu preciso ir, vou de carro. É urgente que ônibus e trens se tornem o principal meio de se locomover nas cidades, não apenas pela mobilidade urbana, mas também pela questão climática. Seu uso pode reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE) em até dois terços por passageiro por quilômetro em comparação aos carros.

Além de todo o planejamento urbano que é preciso fazer para modificar essa situação, ainda é preciso modificar a cultura do brasileiro. Enquanto ter veículo particular for sinal de status, dificilmente o uso do transporte coletivo vai emplacar. O primeiro passo é encontrar maneiras de subsidiar esse setor. Nesse sentido, Porto Alegre (RS) e Novo Hamburgo (RS) acharam uma solução: parte da receita do estacionamento rotativo público (área em que a Liquid Works atua e conhece bem) é direcionada ao ônibus, mantendo as linhas em funcionamento.

Os próximos anos serão cruciais para que medidas eficazes sejam tomadas, o que torna um desafio e tanto aos novos gestores municipais que tomarão posse em 2025. As cidades precisam repensar suas políticas de mobilidade urbana com urgência, caso contrário, estarão fadadas a enfrentar um colapso completo. Investir em soluções sustentáveis não é apenas uma questão de locomobilidade, mas de sobrevivência econômica, social e ambiental.

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